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Foto: Edward Honaker

Hoje eu acordei com medo. Com medo de escrever, de respirar, de perder. Acordei com medo de olhar pro lado e ser mais um daqueles dias. Acordei e vivi mais um daqueles dias. Me tranquei num ninho de cobertas no sofá e tudo que pode me tirar de lá era a fome. Fui incapaz de lavar uma louça, de conversar com alguém, de viver um dia. Hoje, eu apenas existi. Não houve vontade, e muito menos forças, para fazer nada além de avançar alguns vários episódios de uma série policial, nada que me obrigasse a viver além da própria existência.

Hoje, que dia. Posso dizer que nada fiz, fisicamente, mas que dia. Acabo ele cansada, mais enferma que em dias de pura correria. Nenhum esforço físico me fez sair direito do sofá, belisquei algumas comidas, algumas mais frias que meu próprio peito, mas a cada pensamento minhas forças pra viver este dia se esvaíam. Cada puxada de ar me fazia sentir todo o peso do mundo em cima de mim, a cada respiração eu não aguentava mais. Eu não me aguentava mais.

Por entre horas semi acordada e dormindo, me perdi no tempo e mal pude perceber o sol se por ou os passarinhos parando de cantar, implorando pelo pão que sempre tem pra eles na janela. Não vi que horas os vizinhos acenderam a luz negra da varanda deles e mal me importei em ligar o globo de luz da minha, como faço as vezes pra brincar sobre as luzes fora do padrão e me deliciar nas viagens que as imagens coloridas me trazem. Por horas, eu apenas existi, permaneci num estado que me causa desconforto ao mesmo tempo que é tão confortável, que me impede de tentar sair. Hoje, eu não tive forças.

Não, não foi um dia de recaída por algum antigo amor, tampouco perdi um emprego ou peguei uma gripe que tenha me derrubado. Hoje foi nada se não um dia ruim. Hoje foi um dia de existência e não vivência. Hoje foi o que alguns chamam de "dia do cão". Hoje eu quis desistir de todas as minhas conquistas, quis jogar tudo pro alto e fugir de tudo que me cerca. Hoje eu tive um dia ruim, e por mais que eu odeie cada um destes dias, quando eles vem, eu sei que vai ficar tudo bem. Hoje eu tive mil e uma más vontades, mas tudo bem, pois eu não fiz nada disso.

Foto: Edward Honaker

Hoje foi um dia ruim e eu sobrevivi a ele novamente, como sobrevivi a todos que vieram e sobreviverei a todos que virão. Descobrir que dias ruins existem e que não há problemas em enfrentá-los gastando sua energia apenas pra trocar de série, ir ao banheiro e comer, foi uma das melhores coisas que fiz. Quando descobri isso, percebi que os dias ruins existem pra muita gente, e que eles vem e vão. Em algumas épocas, eles são mais frequentes e tudo parece impossível, como se nada fosse melhorar nunca mais. É nessas horas que a gente aprende a lutar.

A gente aprende que está tudo bem em lidar com alguns dias ruins da forma que lidei hoje, desde que esses dias ruins não sejam sempre assim, desde que você aprenda a levar os dias ruins pra longe. Viver pra apenas existir por algumas horas chega a ser necessário pra algumas pessoas, como é pra mim. Uma recarga das baterias, de quando nossa mente e coração estão tão exaustos, que toda a energia que a gente tem, literalmente vai pra nos manter sãos. Então, se você está em um desses dias ruins, vai lá, deita na sua cama, assiste suas séries, deixa de viver um pouco e recarrega suas energias que esse dia vai passar. Assim como eu perdi a noção do tempo, você também vai, e quando perceber um novo dia já vai estar aí e vai ser bem mais fácil, mesmo que ele não seja de todo bom, você vai ter mais forças e com o tempo vai aprender como lidar com cada um deles.

Pode ir lá, você precisa disso e está tudo bem com isso.

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