Eu nunca fui de ter medo de monstros, mas algo sempre parecia prestes a me surpreender. Aos cinco não atravessava um mero corredor sozinha. Haja paciência da minha irmã para me levar (todas as noites) até o quarto de minha mãe.
De quando nasci até meus 12 anos, eu era incapaz de dormir sozinha. O escuro me amedrontava, a imaginação fértil me perseguia, segurar a mão dela antes de dormir era tudo o que eu podia. Dormir em casa de amigas era pedir para ser buscada meia noite ou uma hora da manhã. Mãe, estou com saudades.
Passaram-se os anos e enquanto alguns medos foram embora, outros se fortaleceram e outros ainda se aconchegaram comigo. É a incerteza do futuro e a certeza do fim. O desequilíbrio emocional e a incapacidade de reagir. É saber que tudo e nada, tanto faz, é só mais um.
Deixei de ter medo do escuro em meu conhecido quarto e adquiri o medo do antes tão distante futuro. Futuro, uma palavra, três sílabas, seis letras e cada uma delas carregada dos medos, anseios e desejos. A curiosidade pode ter matado um ou outro gato, mas ela me traz a vontade de experimentar. Quero voar com meus pés presos ao chão. Quero a liberdade de ser feliz com a segurança de ser estável.
Eu cresci, a vida fez isso comigo assim como fará com cada criança que hoje habita o mundo. Deixei de lado o medo da falta de luz para que o medo da falta de chances pudesse ocupar seu lugar. Disse adeus aos pesadelos com criaturas estranhas e olá para o pesadelo lúcido que é minha própria mente.
Abandonei os receios de nunca crescer e adotei os desejos de não crescer rápido demais.
São perguntas e respostas sempre incompatíveis com as necessidades, são trilhas cada vez mais rigorosas, são dias cada vez mais pesados. O que era o dia das bruxas, se torna o dia do vencimento, das decepções, do excesso de coisas a fazer, da falta de tempo, dos indomáveis sentimentos. Os monstros viraram contas, demissões, casas sujas e tão bagunçadas quanto nossa própria cabeça. O escuro da noite se tornou a paz que se opõe ao caos dos dias tão ensolarados. A criançada cresceu, mudou, transformou, e o Halloween? Bem, ele se tornou cada dia mais diário.
Amei o texto. A realidade da gente, que nem sempre queremos admitir.
ResponderExcluirBeijos,
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Oi Gaby! Fico muito feliz que tenha gostado! Com esse clima de halloween a gente chega num ponto que quer se vestir pro que dá medo de verdade: umas contas pra pagar ou o próprio despertador hahaha mas é preciso encarar mesmo pra conseguirmos continuar na vida, né?
ExcluirBeijos!